Luis Barragán nasceu em 9 de março de 1902, em Guadalajara, no México. Sua família costumava passar parte dos períodos de férias na fazenda que possuíam em Mazamitla, a 132 quilômetros da cidade. Esse costume viria a influenciar a composição artística deste homem que se tornou um dos mais importantes arquitetos do século XX e o único mexicano a ser laureado com um Prêmio Pritzker, no ano de 1980.
Barragán é, na verdade, Engenheiro Hidráulico de formação. Devido a sua carga curricular durante o período de faculdade, poderia também ter se graduado como arquiteto. Entretanto, uma viagem que fez para a Europa logo em seguida do término do curso o impediu de retirar o título.
Por outro lado, esta viagem seria responsável por despertar a paixão do jovem rapaz pela arquitetura e, principalmente, pelas obras do arquiteto e paisagista Ferdinand Bac.
Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas: o evento que inspira toda a carreira do arquiteto mexicano
Em 1925, quando estava viajando por Paris, Luis Barragán visitou a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas. Este evento popularizou a Art Déco, além de apresentar ao público obras de Le Corbusier e Charlotte Perriand.
Aliás, foi nesta mesma exposição que o arquiteto mexicano conheceu a obra de Ferdinand Bac. Os trabalhos deste artista faziam referência a temas hispano-árabes e arquitetura mudéjar – estilo artístico que surgiu na Península Ibérica entre séculos XII e XVI, incorporando elementos e materiais ibero-muçulmanos.
Além de se encantar pelos pátios e jardins de Bac, Barragán encontrou ali certas semelhanças entre a arquitetura, materiais e formas que o lembravam das áreas rurais em que passou grande parte de sua vida.
Sensibilidade e beleza: o processo criativo de Luis Barragán
Por isso, em vez de deslumbrado pelas vanguardas modernistas em ascensão na Europa, Barragán retorna a Guadalajara inspirado pelas obras de Bac. Especialmente, por dois livros publicados pelo arquiteto paisagista francês: “Les Colombières” e “Jardins enchantés”, que retratavam os seus ecléticos jardins mediterrâneos.
A partir de então, Luis Barragán se sentiu livre e inspirado para trabalhar em seus primeiros jardins em terras mexicanas, tendo em mente os “lugares de repouso e prazer pacífico” que eram os jardins românticos de Bac.
Suas raízes no interior do México permitiram que Luis Barragán tivesse uma grande sensibilidade e um olhar especial para espaços interiores, enquanto a inspiração retida na viagem ao Velho Mundo lhe garantiu novos talentos para criar jardins encantadores e repletos de emoção.
Afinal, um de seus objetivos era o uso da natureza como forma de enriquecer os espaços, criando uma relação com o todo.
Buscando se aproximar da modernidade sem quebrar a tradição, nas décadas seguintes, Luis Barragán opta por uma arquitetura ligada às suas origens mexicanas mesclada com temáticas e estéticas modernas.
Ele fez excelente uso de cores vibrantes, contrastes, texturas, luz e sombra. Tudo isso, é claro, aliado à sua paixão pelo paisagismo.
Vemos, então, uma arquitetura com ideais naturais, jardins e a presença constante da água.
Apesar de possuir um conjunto de obras considerado como sublime e provindo de uma imaginação poética, Barragán passou por algumas dificuldades profissionais em vida. Entretanto, devido à sua exposição Museum of Modern Art (MoMa, NYC) em 1977 e por ter vencido o Prêmio Pritzker em 1980, pôde desfrutar de alguns anos de admiração e atenção merecidas antes do seu falecimento em 1988.
Escola Tapatía: a herança influência de Barragán nas ruas mexicanas
Barragán, ao longo de sua carreira, compartilhou suas descobertas com companheiros de sua geração e, de forma não deliberada, criou as bases para a Escuela Tapatía de Arquitectura.
O movimento foi desenvolvido entre 1926 e 1936 por Luis Barragán, Ignacio Díaz Moralez, Rafael Urzúa Arias e Pedro Castellanos Lambley, e ainda é possível observar exemplos representativos dele espalhados pela cidade de Guadalajara até hoje.
Inspiravam-se nas fazendas e áreas rurais mexicanas, criando até mesmo jardins claustrais no centro dos interiores de seus trabalhos. Ao longo das décadas, a Guadalajara foi se modernizando, e estes arquitetos mexicanos usavam fachadas complexas para criar verdadeiros refúgios dentro de suas construções.
Algumas das obras residenciais feitas pelo grupo menos pareciam casas e mais se assemelhavam a mosteiros. Na realidade, certas construções são verdadeiras narrativas não completamente legíveis em totalidade, tornando-se obras-primas misteriosas e emblemáticas espalhadas por Guadalajara.
Agora, a quinta geração de artistas da Escola Tapatía busca, em suas obras, trazer o encantamento à vida cotidiana de uma cidade cosmopolita, em expansão e que visa a segurança num país rodeado de violência e falta de confiança.
A nostalgia entra como objetivo, desafio e ponto de partida. Existe a necessidade de memória como matéria-prima a fim de criar experiências únicas.
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