Há quase 120 anos atrás, no dia 27 de fevereiro de 1902, nascia em Toulon um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna brasileira: Lúcio Costa.
Arquiteto, urbanista e professor, Lúcio Costa foi pioneiro da arquitetura modernista brasileira. Sua obra era regada de propósito. De tal forma que, certa vez, definiu a arquitetura como “antes de mais nada construção, mas construção concebida com o propósito primordial de ordenar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção”.
Dessa forma, não é de surpreender que ele tenha sido escolhido para liderar projetos que contemplavam planejamento e intenção em altíssima escala, como o Palácio Capanema e o Plano Piloto de Brasília. Abaixo, vamos contar um pouco mais do histórico e legado desta figura tão importante para o desenvolvimento da arquitetura modernista brasileira.
Lúcio Costa: a vida por trás de projetos regados de propósito
Os anos iniciais de carreira, entre 1922 e 1929, foram focados em projetos de estética neocolonial e nacionalista. Entretanto, ao se deparar com a Casa Modernista, o arquiteto e urbanista elevou seu interesse por essa expressão artística e rompeu com as escolas tradicionais.
Em 1930, Costa foi convidado a fazer parte da Escola Nacional de Belas Artes. Sua missão? Remodelar todo o ensino de artes plásticas da instituição e, principalmente, renovar o curso de arquitetura com foco nas técnicas modernistas. Lá, conhece Oscar Niemeyer, futuro aluno, estagiário e parceiro de projetos prestigiados.
Sua passagem pela escola foi turbulenta, uma vez que o restante do corpo docente não era tão favorável às técnicas da arquitetura modernista. Foi responsável por um evento, motor de sua exoneração da instituição, denominado Salão Revolucionário de 1931. Artistas como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Candido Portinari e Tarsila do Amaral tiveram suas obras expostas no salão – o que acabou por divulgar e ratificar o movimento iniciado na Semana de Arte Moderna de 1922.
Além disso, nos anos seguintes, escreve o manifesto Razões da Nova Arquitetura, onde defende a primordialidade do modernismo nas diferentes técnicas artísticas.
Palácio Capanema: fusão entre edifício administrativo e acervo cultural
Apesar das adversidades encontradas na Escola Nacional de Belas Artes, a carreira de Lúcio Costa permanecia auspiciosa.
Em 1935, foi convidado por Gustavo Capanema, à época Ministro da Educação, para liderar a construção do novo Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Costa e uma equipe de jovens arquitetos ficaram, então, responsáveis por conceder uma identidade nacional a um edifício que não apenas seria considerado um dos marcos inaugurais da arquitetura modernista brasileira, mas também um ícone da produção artística do país.
Para isso, estiveram presentes:
• Affonso Eduardo Reidy;
• Carlos Leão;
• Jorge Moreira;
• Ernani Vasconcelos;
• Oscar Niemeyer;
• Le Corbusier, considerado o pai da arquitetura moderna mundial e responsável pela coordenação do projeto a convite de Costa.
Durante o desenvolvimento da edificação, que aconteceu entre 1936 e 1945, os arquitetos modernistas se atentaram a alguns elementos presentes no trabalho de Le Corbusier: planta livre, pilotis, terraço-jardim, janelas horizontais e fachada livre.
Repleto de técnicas vanguardistas, o grupo também focou no uso de tecnologia industrial, formas econômicas de produção, aplicação de curtain walls, uso racional de materiais e linguagem formal sem ornamentos.
A construção do Palácio Capanema surge como uma diligência de quebrar paradigmas e romper com estéticas antigas. Dessa maneira, o projeto tentava em seus mínimos detalhes traduzir o modernismo brasileiro em qualquer oportunidade. Por isso, é notável a integração entre a arquitetura, artes gráficas, esculturas e paisagismo. Tal associação de diferentes elementos, inclusive, é responsável por revolucionar a maneira que edificações são planejadas e construídas.
Em 1943, o Museu de Arte Moderna de Nova York elegeu o Palácio Gustavo Capanema como o edifício com a construção mais avançada do mundo.
Outros projetos e influência na arquitetura brasileira
Nos anos seguintes, participou de projetos onde mesclou técnicas claramente modernistas com componentes tradicionais. Algumas de suas concepções nesse período são o Museu das Missões (RS), Park Hotel São Clemente (RJ), o pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova York e a sede social do Jockey Club do Brasil (RJ).
Lúcio Costa venceu o concurso para liderar o plano piloto de Brasília em 1957 – trabalho que mais uma vez contou com a parceria de Niemeyer. Dessa forma, criam um dos projetos mais importantes para a consolidação da estética modernista brasileira no imaginário nacional. Não à toa, em 1987, Brasília foi considerada Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade pela UNESCO.
Assim, percebemos a relevância inegável do arquiteto para a construção de uma identidade essencialmente nacional associada às técnicas modernistas. Entretanto, não podemos esquecer que suas obras foram milimetricamente pensadas para gerarem conversas entre passado e futuro, apoiando-se também em alguns métodos clássicos. Certo é: Lúcio Costa é responsável pelo o que entendemos como arte e arquitetura brasileiras até hoje.
Para conhecer mais aspectos da arquitetura modernista brasileira, confira os demais textos do nosso blog. Além disso, não se esqueça que nosso time de especialistas permanece sempre a sua disposição para ajudá-lo a encontrar um imóvel unicamente seu.
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